segunda-feira, 3 de março de 2014

“BUSCAI AS COISAS DO ALTO” - VIII DTC -A


Em Is 49, 14-15, nós temos o lamento do homem de fé: “O Senhor abandou-me, esqueceu-se de mim”. A criança, enquanto está no ventre materno, sob os cuidados da Mãe natureza, recebe os nutrientes para a sua vida através do cordão umbilical que a liga à mãe.
 Também está protegida, envolvida numa bolsa d’água com nutrientes que a protege e a revigora enquanto avançam  os meses  para vir à luz do Mundo. O seu trabalho, a sua função, é desenvolver-se, crescer, preparar-se para o mundo que a espera. Tudo, absolutamente tudo, é dado “gratuitamente”. Quando chega o momento de nascer , a partir do momento em que se sai do útero materno, já começa por si mesma um movimento em direção a tomar posse de si mesma, ainda que pequena e indefesa. É a vida! Primeiro, precisa respirar. Receber o oxigênio e que para isto é preciso encher os pulmões de ar. 

Se não chora, recebe “umas palmadas” para acordar, chorar e assim, enche os pulmões de ar. Bem vindo à vida, bem vinda ao mundo.Crescendo, vai descobrindo que a vida no mundo é composta de reciprocidade – ganha e doa-se.
A dificuldade que vai surgindo neste processo de reciprocidade, de relacionamento é que não só as coisas, o que é material, que são objetos de “trocas”, mas no contexto da vida, entra também a doação de si próprio(a), os afetos, envolve-se  o próprio coração, “joga-se” com a vida um do outro, depara-se com a riqueza e a miséria, com a generosidade e a mesquinhez de cada um e assim, o ser humano vai avançando na  vida. 

Em seu relacionamento com o próximo, abandona e é abandonado, sozinho se entristece  e triste reclama. Reclama do outro, reclama de Deus: “O Senhor abandou-me, esqueceu-se de mim”. 
 Mas, se quiser continuar andando na vida, se quiser continuar se relacionando com o outro e com Deus, formando um “nós” é preciso ir mais longe, despojar-se mais um pouco para também poder ouvir a resposta: “...não me esqueci de ti”. Jamais!
Assim, aprenderemos também não apenas receber, como a criança no ventre materno, que só recebe em perspectiva de um futuro saudável, mas aprendemos  a ser “servidores e administradores dos mistérios de Deus   (1Cor 4, 1-5). 

O que implica  um alto grau de envolvimento também com os destinos dos outros. E que no hoje de nossa vida, há que se ter paciência, aguardando que o Senhor venha, iluminando o que estiver escondido, manifestando os projetos do coração. Portanto, é preciso caminhar. 

Caminhar e cansar. E retomar a estrada da vida. Estrada que num determinado momento, se entrecruzarão duas opções: Deus e o dinheiro. A quem serviremos? Jesus diz-nos: “Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro”    (Mt 6,24-34)
É verdade que o dinheiro pode transforma-se em  “senhor”, em ídolo e ser colocado no lugar de Deus, se transformar em “divindade de metal fundido ( Lv 1,4 ), que tem numerosos adoradores também entre nós cristãos de hoje. 

Um ídolo monstruoso chamado Moloc era adorado na Palestina antes da chegada dos hebreus  e ao qual se prestava culto, imolando   crianças  que eram queimadas diante dele (  Lv 19,4 ). O Moloc de hoje é o dinheiro. 
A ele se imolam homens, mulheres e crianças que sofrem no mundo pela fome, doenças e guerras, pela exploração, raptos e sequestros. São vítimas  deste ídolo cruel; tudo isto faz parte deste culto idolátrico que permeia  as sociedades deste nosso tempo. Dinheiro que de meio se torna fim e de servo se torna patrão. Mas, se olharmos atentos o nosso coração, o dinheiro pode sim, ser colocado como serviço e como meio para atingir os fins que lhe são  próprios, para uma vida decente e humana, para o pão cotidiano que Cristo mesmo nos ensinou  “ a pedir ao Pai Celeste”.

( Cf  O Verbo se  fez Carne, Catalamessa, 8º DT Comum, pg 128 )