Em
Is 49, 14-15, nós temos o lamento do homem de fé: “O Senhor abandou-me,
esqueceu-se de mim”. A criança, enquanto está no ventre materno, sob
os cuidados da Mãe natureza, recebe os nutrientes para a sua vida através do
cordão umbilical que a liga à mãe.
Também está
protegida, envolvida numa bolsa d’água com nutrientes que a protege e a
revigora enquanto avançam os meses para vir à luz do Mundo. O seu trabalho, a
sua função, é desenvolver-se, crescer, preparar-se para o mundo que a espera.
Tudo, absolutamente tudo, é dado “gratuitamente”. Quando chega o momento de
nascer , a partir do momento em que se sai do útero materno, já começa por si
mesma um movimento em direção a tomar posse de si mesma, ainda que pequena e
indefesa. É a vida! Primeiro, precisa respirar. Receber o oxigênio e que para isto é preciso encher os pulmões de ar.
Se não chora, recebe “umas palmadas” para acordar, chorar e assim, enche os pulmões de ar. Bem vindo à vida, bem vinda ao mundo.Crescendo, vai descobrindo que a vida no mundo é composta de reciprocidade – ganha e doa-se.
A dificuldade que vai surgindo neste processo de reciprocidade, de relacionamento é que não só as coisas, o que é material, que são objetos de “trocas”, mas no contexto da vida, entra também a doação de si próprio(a), os afetos, envolve-se o próprio coração, “joga-se” com a vida um do outro, depara-se com a riqueza e a miséria, com a generosidade e a mesquinhez de cada um e assim, o ser humano vai avançando na vida.
Em seu relacionamento com o próximo, abandona e é abandonado, sozinho se entristece e triste reclama. Reclama do outro, reclama de Deus: “O Senhor abandou-me, esqueceu-se de mim”.
Mas, se quiser continuar andando na vida, se quiser continuar se relacionando com o outro e com Deus, formando um “nós” é preciso ir mais longe, despojar-se mais um pouco para também poder ouvir a resposta: “...não me esqueci de ti”. Jamais!
Assim, aprenderemos também não apenas receber, como a criança no ventre materno, que só recebe em perspectiva de um futuro saudável, mas aprendemos a ser “servidores e administradores dos mistérios de Deus (1Cor 4, 1-5).
O que implica um alto grau de envolvimento também com os destinos dos outros. E que no hoje de nossa vida, há que se ter paciência, aguardando que o Senhor venha, iluminando o que estiver escondido, manifestando os projetos do coração. Portanto, é preciso caminhar.
Caminhar e cansar. E retomar a estrada da vida. Estrada que num determinado momento, se entrecruzarão duas opções: Deus e o dinheiro. A quem serviremos? Jesus diz-nos: “Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24-34)
É verdade que o dinheiro pode transforma-se em “senhor”, em ídolo e ser colocado no lugar de Deus, se transformar em “divindade de metal fundido ( Lv 1,4 ), que tem numerosos adoradores também entre nós cristãos de hoje.
Um ídolo monstruoso chamado Moloc era adorado na Palestina antes da chegada dos hebreus e ao qual se prestava culto, imolando crianças que eram queimadas diante dele ( Lv 19,4 ). O Moloc de hoje é o dinheiro.
A ele se imolam homens, mulheres e crianças que sofrem no mundo pela fome, doenças e guerras, pela exploração, raptos e sequestros. São vítimas deste ídolo cruel; tudo isto faz parte deste culto idolátrico que permeia as sociedades deste nosso tempo. Dinheiro que de meio se torna fim e de servo se
torna patrão. Mas, se olharmos atentos o nosso coração, o dinheiro pode sim,
ser colocado como serviço e como meio para atingir os fins que lhe são próprios, para uma vida decente e humana,
para o pão cotidiano que Cristo mesmo nos ensinou “ a pedir ao Pai Celeste”.
( Cf O Verbo se
fez Carne, Catalamessa, 8º DT Comum, pg 128 )