O ATO DE “ENTREGAR” – ‘ TAMBÉM VÓS DEVEIS LAVAR-VOS OS PÉS UNS AOS
OUTROS’.
Jesus não fica à espera de que os homens venham privá-lo do que é seu: da sua
liberdade, da sua honra, da sua integridade física e, por fim, da sua vida.
Surpreendendo a todos, ele entrega antecipadamente o que lhe vão tirar. Judas
sairá à noite para entregá-lo.
Mas, antes que o faça, Jesus se entrega a si próprio: “Tomai e comei! Isto
é meu corpo”. Tomai e bebei! Isto é meu sangue”.
E age da mesma forma para com todos os protagonistas de sua Paixão: os
sumos sacerdotes irão entregá-lo a Pilatos para que o crucifique.
Pilatos o entrega de volta, para
que o crucifiquem. E, finalmente, o entregarão à morte.
O verbo “entregar” é utilizado por todos os evangelistas em relação a
todos os que, no relato,
tomam alguma decisão, sem saber, contudo, que estão cumprindo ou consumando as Escrituras e que Jesus se antecipou a todos eles na Última Ceia: “ninguém me tira a vida, pois sou eu quem a dou ( Jo 10,18 ). A
última Ceia fornece assim, a chave de
toda a paixão e ficamos cientes de que a vida, uma vez dada, transforma-se em
alimento do ser humano.
E até mesmo que, segundo S. Irineu, o pão comum, provindo da criação, já
era o corpo de Cristo. Deus já se entregava a nós no pão de
nossas mesas.
Hoje,
como sempre, temos necessidade de recebermos a vida que Deus nos concede
Refazer
o que fez Cristo consiste em reproduzir em nós “as atitudes que foram as de
Cristo Jesus (Fl 2,5) o qual deu sua vida por nós para que, também nós, demos a
vida por nossos irmãos (1Jo 3, 16).
Eis porque, no evangelho, segundo S. João, onde esperaríamos encontrar
os gestos e as palavras pronunciadas sobre o pão e o vinho, vemos Jesus de
joelhos ante os discípulos, a lavar-lhes
os pés.
Este gesto simbólico tem o mesmo significado do dom do pão e do vinho:
se Deus, a quem chamamos Mestre e Senhor, se faz nosso servo, com razão,
devemos pôr-nos, também nós, a serviço
dos nossos irmãos.
Tudo isso, é claro, significa a Paixão que, a seguir, acontecerá e que,
de fato, já começou. O poder se transforma em fraqueza.
O Senhor se faz servo. Tudo se passa ao contrário. O justo
ocupa o lugar do injusto, do culpado. O juiz
substitui o condenado.
Até mesmo as realidades naturais são subvertidas: o pão e o vinho,
frutos da criação, tornam-se presença e vida do Criador e a morte se
transforma em vida.
De fato, a vida, quando a entregamos
em prol dos outros, nós não a perdemos, mas a engrandecemos, já o dissera Jesus:
“Quem perder a sua vida, salva-la-á”. O grão de trigo tem de apodrecer na terra, perder a sua condição de grão, para dar fruto. Um fruto que lhe confere a imortalidade!
“Também vós deveis lavar-vos os pés uns aos outros”. Portanto,
não fiquemos na limitação da celebração de um rito.
VIVAMOS NÃO APENAS UM RITUAL, MAS EFETIVAMENTE, UMA ALIANÇA REALMENTE
NOVA.