domingo, 26 de abril de 2015

III DOMINGO DA PÁSCOA 2015

Surpreende que um fato tão maravilhoso, tenha tido aparentemente tão pouca repercussão. A ressurreição de Cristo que vence a morte após os ultrajes lancinantes da Cruz, após a Via Crucis e o julgamento ignominioso realizado publicamente sobre os clamores de “seja crucificado!”, parece desaparecer num pequeno grupo que testemunha o acontecimento central da história humana: a vitória definitiva da vida sobre a morte.

 No entanto, em Belém já se verificara o mesmo, no nascimento do Deus feito homem na cidade do grande rei Davi, e presenciado pelos simples pastores entre o boi e o burro do Presépio. Deus é humilde, não lhe agrada o espetáculo nem procura plateia para se exibir. 
É assim que encontramos Jesus no caminho com os dois discípulos desiludidos rumo a Emaús. Certamente não podiam acreditar nas santas mulheres e no túmulo vazio. 
Um fato como este deveria atrair a atenção de todos, quem sabe um terremoto que abalasse os fundamentos do Templo ou raios que fulminassem as casas de Anás e Caifás... Mas a vida seguia seu curso e para a imensa maioria dos moradores e peregrinos de Jerusalém o nome de Jesus agora já era coisa do passado. Sem que se dessem conta, o Senhor caminha com eles, escuta os desabafos daqueles homens que abrem seus corações a um desconhecido.

 De modo firme e gentil, o desconhecido abre-lhes a mente com as palavras da Escritura, aquece seus corações com o fogo do Amor de Deus e eles não conseguem mais ficar sozinhos: “fica conosco, Senhor, pois já é tarde”... Palavras que lembram séculos depois as que serão derramadas do coração de Agostinho: “inquieto está o coração enquanto não repousa em Ti”. 

A nós que caminhamos nas estradas da vida, tantas vezes marcadas pelo cansaço do caminho, pelas decepções que a vida nos surpreende e desafios cotidianos, fica para nós a imagem destes retirantes, ícone vivo de quem, ao longo da existência, se afasta de Deus e da prática da fé.
 Longe da vida em comunidade de fé, é sempre noite, o dia sempre declina para quem se afasta de Deus. Que a Páscoa seja uma realidade em nossas vidas, que os que cruzam nossos caminhos no dia a dia possam sentir o desejo de Deus, a saudade do céu, o reconhecimento de suas faltas e a alegria de quem encontra em Deus seu companheiro de viagem. Fiquem para nós as palavras de Dostoiévski na célebre obra “Os irmãos Karamazov: “o paraíso começa somente no momento em que se tem coragem de reconhecer o próprio pecado”.

Folheto 'A Missa'

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