terça-feira, 21 de janeiro de 2014

"EIS O CORDEIRO DE DEUS"

“NAQUELE TEMPO, JOÃO BATISTA VIU JESUS, QUE VINHA AO SEU ENCONTRO, E EXCLAMOU: “EIS O CORDEIRO DE DEUS, QUE TIRA O PECADO DO MUNDO. ERA D’ELE QUE EU DIZIA: ‘DEPOIS DE MIM VIRÁ UM HOMEM, QUE PASSOU À MINHA FRENTE, PORQUE EXISTIA ANTES DE MIM’”.

“Eu não O conhecia, mas para Ele Se manifestar a Israel é que eu vim batizar em água”. João deu mais este testemunho: “Eu vi o Espírito Santo descer do Céu como uma pomba e repousar sobre Ele. Eu não O conhecia, mas quem me enviou a batizar em água é que me disse: “Aquele sobre quem vires o Espírito Santo descer e repousar é que batiza no Espírito Santo”. Ora eu vi e dou testemunho de que Ele é o Filho de Deus”. Jo 1,29-34

João é, portanto, o apresentador oficial de Jesus. De que forma e em que termos o vai apresentar?
A catequese sobre Jesus que aqui é feita expressa-se através de duas afirmações com um profundo impacto teológico: Jesus é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo; e é o Filho de Deus que possui a plenitude do Espírito.

A primeira afirmação (“o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” – Jo 1,29) evoca, provavelmente, duas imagens tradicionais extremamente sugestivas.
Por um lado, evoca a imagem do “servo sofredor”, o cordeiro levado para o matadouro, que assume os pecados do seu Povo e realiza a expiação (cf. Is 52,13-53,12); por outro lado, evoca a imagem do cordeiro pascal, símbolo da ação libertadora de Deus em favor de Israel (cf. Ex 12,1-28). Qualquer uma destas imagens sugere que a pessoa de Jesus está ligada à libertação dos homens.

A ideia é, aliás, explicitada pela definição da missão de Jesus: Ele veio para tirar (“eliminar”) “o pecado do mundo”. A palavra “pecado” aparece, aqui, no singular: não designa os “pecados” dos homens, mas um “pecado” único que oprime a humanidade inteira; esse “pecado” parece ter a ver, no contexto da catequese joânica, com a recusa da proposta de vida com que Deus, desde sempre, quis presentear a humanidade (é dessa recusa que resulta o pecado histórico, que desfeia o mundo e que oprime os homens). O “mundo” designa, neste contexto, a humanidade que resiste à salvação, reduzida à escravidão e que recusa a luz/vida que Jesus lhe pretende oferecer…

 Deus propôs-se tirar a humanidade da situação de escravidão em que esta se encontra; enviou ao mundo Jesus, com a missão de realizar um novo êxodo, que leve os homens da terra da escravidão para a terra da liberdade.
A segunda afirmação (o “Filho de Deus” que possui a plenitude do Espírito Santo e que batiza no Espírito – cf. Jo 1,32-34) completa a anterior. Há aqui vários elementos bem sugestivos: o “cordeiro” é o Filho de Deus; Ele recebeu a plenitude do Espírito; e tem por missão batizar os homens no Espírito.
Dizer que Jesus é o Filho de Deus é dizer que Ele é o Deus que se faz pessoa, que vem ao encontro dos homens, que monta a sua tenda no meio dos homens, a fim de lhes oferecer a plenitude da vida divina. A sua missão consiste em eliminar “o pecado” que torna o homem escravo e que o impede de abrir o coração a Deus.

Dizer que o Espírito desce sobre Jesus e permanece sobre Ele sugere que Jesus possui definitivamente a plenitude da vida de Deus, toda a sua riqueza, todo o seu amor. Por outro lado, a descida do Espírito sobre Jesus é a sua investidura messiânica, a sua unção (“messias” = “ungido”). O quadro leva-nos aos textos do Deutero-Isaías, onde o “Servo” aparece como o eleito de Jahwéh, sobre quem Deus derramou o seu Espírito (cf. Is 42,1), a quem ungiu e a quem enviou para “anunciar a Boa Nova aos pobres, para curar os corações destroçados, para proclamar a libertação aos cativos, para anunciar aos prisioneiros a liberdade” (Is 61,1-2).

Jesus é, finalmente, aquele que batiza no Espírito Santo.
O verbo “batizar” aqui utilizado tem, em grego, duas traduções: “submergir” e “empapar (como a chuva empapa a terra)”; refere-se, em qualquer caso, a um contato total entre a água e o sujeito. “Batizar no Espírito” significa, portanto, um contato total entre o Espírito e o homem, uma chuva de Espírito que cai sobre o homem e lhe preenche o coração. A missão de Jesus consiste, portanto, em derramar o Espírito sobre o homem; e o homem que adere a Jesus, “preenchido” do Espírito e transformado por essa fonte de vida que é o Espírito, abandona a experiência da escuridão (“o pecado”) e alcança o seu pleno desenvolvimento, a plenitude da vida.

A declaração de João convida os homens de todas as épocas a voltarem-se para Jesus e a acolherem a proposta libertadora que, em nome de Deus, Ele faz: só a partir do encontro com Jesus será possível chegar à vida plena, à meta final do Homem Novo.

O cordeiro era um animal utilizado nos sacrifícios dos judeus para a remissão dos pecados. quando o evangelista João apresenta Jesus como o “Cordeiro de Deus”, está revelando sua missão: Jesus é o enviado do Pai para redimir, de uma vez por todas, a humanidade. João Batista esperava ardentemente o Messias. Atento aos “sinais dos tempos”, e a partir da reflexão do Antigo Testamento, ele compreende que o tempo se cumpriu: O Messias está presente. João nos ensina que, para percebermos a ação de Deus no mundo, é necessário uma atenta escuta à sua Palavra. Através da reflexão dos Evangelhos, da participação na Eucaristia e da partilha na comunidade de fé, Jesus nos revela o rosto de bondade de um Deus que veio para tirar “todo o pecado do mundo”. 

Padre Joaquim Garrido
Padre Manuel Barbosa
Padre José Ornelas Carvalho
Frei Sandro Roberto da costa, OFM 


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